Teste do JAC J2

Baixo risco - Subcompacto JAC J2 se vale da desconfiança dos brasileiros para ser o chinês mais vendido do país


Os chineses são realidade no Brasil há algum tempo e, inegavelmente, vêm conquistando espaço no mercado. Só neste ano, mais de 10 mil automóveis importados do país asiático já foram vendidos por aqui. Mas comprar carro de uma marca pouco conhecida é como uma aposta: quanto maior o valor, maiores as garantias exigidas.
Por isso, mesmo que haja uma grande gama de carros vindos da China no mercado brasileiro, de subcompactos a sedãs médios, os maiores volumes se concentram nos modelos mais baratos. Foi essa lógica que transformou o subcompacto JAC J2 no chinês mais vendido do país em 2013. O carrinhocusta R$ 31.990, cerca de R$ 6 mil a menos que o J3, que antes liderava a briga particular entre os chineses no Brasil.
J2 segue a lógica dos “conterrâneos”: uma lista de equipamentos completa e um conjunto dinâmico interessante. Nos primeiros sete meses do ano, o menor carro da JAC conseguiu média de 570 unidades mensais – o J3 emplaca 390 por mês. A queda do J3, aliás, foi marcante. Em 2012, antes do J2 chegar, chegou a vender 680 carros por mês. O que ocorreu com os dois hatches da JAC, por sinal, é um clássico exemplo de “canibalização”, já que a empresa praticamente manteve a média mensal de 1.500 exemplares no período.
JAC J2
Além de representar uma aposta menor, o sucesso do J2 também tem a ver com o seu tamanho. O hatch se vale de suas pequenas dimensões para ser prático, leve e ágil. A diminuta carroceria se reverte em baixo peso. São apenas 915 kg no total, o que também ajuda a aliviar o trabalho do valente motor da JAC.

A marca colocou sob o capô o mesmo 1.4 – na verdade tem 1.332 cc – usado no J3. Com comando duplo no cabeçote e variável de válvulas na admissão, ele entrega 108 cv a 6 mil rpm e 14,1 kgfm de torque a 4.500 giros – o que dá a ótima relação de 8,47 kg/cv. Segundo a empresa, o conjunto leva o subcompacto a 100 km/h em 9,8 segundos e chega até 187 km/h.
Para segurar um desempenho tão “apimentado”, a JAC tratou de instalar um conjunto suspensivo bastante eficiente. Na dianteira, a tradicional McPherson. A surpresa vem atrás, rodas independentes com os braços duplos, solução pouco usada em carros desta faixa de preço – em geral, se recorre ao eixo de torção. Além disso, ele tem 3,54 metros de comprimento e pouquíssimo balanço dianteiro ou traseiro. O que significa que o peso está todo concentrado no entre-eixos, de bons 2,39 metros.
Como toda marca que precisa ganhar mercado e ainda convive com a desconfiança do consumidor, o J2 busca seduzir pelo custo/benefício. E vem completo de fábrica. Traz airbag duplo, ABS, ar-condicionado, direção elétrica, trio elétrico, rádio e sensor de estacionamento traseiro. A garantia de seis anos é outra maneira de tentar superar o receio do cliente e angariar vendas.
Por enquanto, o J2 é o carro-chefe da JAC no Brasil. Mas isso deve mudar no futuro próximo. A montadora chinesa continua o processo de construção de sua fábrica na cidade de Camaçari, na Bahia, com previsão de término no final de 2014.

Lá, devem ser feitos três modelos a partir de uma mesma plataforma: um hatch, um sedã e um aventureiro. Até lá, cabe ao J2 garantir a JAC na liderança entre as chinesas. E tentar ser competitivo em relação aos concorrentes das marcas estabelecidas há mais tempo no Brasil.
Interior do JAC J2

Ponto a ponto

Desempenho – Acelerar forte não é problema para o pequeno hatch chinês. O motor 1.4 de 108 cv move sem qualquer dificuldade os 915 kg do J2. A combinação de um propulsor bem disposto com o baixo peso faz do subcompacto da JAC um modelo bem animado. Em baixos giros, não há muito torque. Porém, basta superar as 3 mil rpm para o carro ficar bem interessante.

 Falta ao pequeno JAC, no entanto, uma transmissão mais precisa. O curso da alavanca é até curto, mas os engates são pouco precisos. Mesmo assim, ele consegue acelerar de zero a 100 km/h em menos de 10 segundos, marca bem respeitável para um carro de pouco mais de R$ 30 mil. Nota 8.

Estabilidade – Aqui o J2 se vale mais uma vez de sua arquitetura para ir bem, principalmente nas curvas de baixa e média velocidade. A suspensão é eficiente e o peso concentrado entre os eixos reduzem muito tendência ao rolamento lateral e o J2 cola no chão como se fosse um kart.

Em alta velocidade, porém, o hatch não inspira muita segurança, pois a direção fica imprecisa e a suspensão mais durinha deixa o carro quicar muito. Os pneus 175 também não ajudam muito. Tudo isso reforça a vocação urbana do carrinho. Nota 7.
Teste do JAC J2Interatividade – Faltam recursos de ergonomia no J2. Para começar, o volante regula apenas na altura – e mesmo assim entre uma posição média e outra muito baixa. Qualquer pessoa de maior estatura bate com a perna no imenso volante.

O banco do motorista também não tem ajuste de altura. O comando para os vidros elétricos fica no console central, onde é preciso se esticar para alcançar. E o conta-giros e o marcador de combustível são muito pequenos e de difícil visualização. Os pedais também causam estranhamento: o freio é alto e hipersensível, o acelerador tem curso muito longo e a embreagem, pelo menos na unidade testada, estava muito baixa. Nota 5.
Consumo – O modelo da JAC não tem computador de bordo nem foi avaliado pelo InMetro. Mas em trânsito urbano e em pistas expressas obteve uma média bastante aceitável, na ordem de 11,7 km/l. Nota 8.
Conforto – O J2 se beneficia da suspensão independente de braços duplos na traseira para ter um rodar bem macio, mesmo nas ruas esburacadas das cidades brasileiras. O espaço interno também é surpreendente. Por causa do desenho bem “quadradão” da cabine, cabem dois adultos e uma criança atrás sem grandes problemas, muito bom para um subcompacto. A principal falha está nos bancos, com ajustes precários, e no isolamento acústico, deficiente principalmente em relação ao ruído do motor e dos pneus no asfalto. Nota 7.
Tecnologia – Como é comum aos carros chineses vendidos por aqui, o J2 vem bem recheado. Traz uma lista de equipamentos completa para o segmento, com direito a rádio, ar-condicionado e trio elétrico. O motor 1.4 é potente e relativamente econômico. Nota 7.
Traseira do JAC J2
Habitabilidade – Entrar e sair do J2 é descomplicado, assim como a vida lá dentro. Achar um porta-objetos “decente” é mais difícil. O porta-copos à frente do câmbio mal aguenta garrafas de pequeno porte e o porta-luvas não tem nem tampa.

O porta-malas é minúsculo e carrega apenas 120 litros. Outra deficiênca está nos difusores de ar no interior. São apenas três, sendo que um deles, o superior, direciona o vento apenas para o para-brisa. Apenas os outros dois, nas extremidades do painel, é que servem diretamente aos passageiros. Nota 6.
Acabamento – O acabamento do J2 é simples. Os plásticos não transmitem a ideia de qualidade, mas não chegam a ser toscos, como os de alguns rivais, como o Chery QQ. Nota 5.
Design – O J2 aposta em um jeitão simpático, também típico dos veículos orientais. A dianteira é a que se destaca mais, com os faróis redondos e a discreta grade com friso cromado. Atrás ficam as grandes e estranhas lanternas, que dão a impressão de que o hatch tem “culotes”. De uma maneira geral, é um carrinho bonito e com personalidade no design. Nota 8.
Custo/benefício – Atualmente, o JAC J2 reina praticamente sozinho entre os modelos subcompactos – o chinês mais próximo em proposta é o Chery QQ, que custa R$ 24 mil e é bem inferior. O único rival em porte é o Fiat Uno que, equipado da mesma maneira, custa R$ 3 mil a mais, ou cerca de R$ 35 mil. A favor do JAC ainda aparece o bom comportamento dinâmico e os seis anos de garantia. Nos próximos anos, a briga entre os subcompactos deve ficar mais“animada”. A Volkswagen vai aparecer com o Up!, a Ford com a nova geração do Ka e a Chevrolet com um possível substituto para o Celta. Nota 6.
Total – O JAC Motors J2 somou 67 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Existe uma certa sensação de ansiedade antes de dirigir o pequeno J2. Para começar, é um carro agradável de se olhar, com um desenho simpático e harmônico. Além disso, um rápido estudo da ficha técnica antecipa que o hatch de R$ 32 mil promete ser bem mais animado que seus concorrentes da mesma faixa de preço.
Tudo comprovado na prática. A combinação de um motor valente e o peso de apenas 915 kg fazem do J2 um carrinho nervoso. Ele parece gostar de acelerar forte e de explorar giros altos. O que é importante, já que o melhor desempenho só aparece acima de 2.500 rpm. A partir desta faixa, o J2 fica ligeiro e se move com bastante agilidade.

Na hora de mudar de direção, o JAC também se dá bem. Resultado da suspensão independente nas quatro rodas e bem calibrada que permite algumas rolagens de carroceria, mas sem grandes problemas no equilíbrio. É um comportamento dinâmico surpreendente.
Farol do JAC J2
O problema é que a JAC não valoriza o bom produto que tem em mãos. Existem falhas extremamente banais que prejudicam o convívio diário com o carro. Ao menos na unidade testada, a regulagem dos pedais era péssima, com sensibilidades díspares entre eles.

O isolamento acústico é precário. Basta passar dos 3 mil giros – exatamente a faixa que o carro fica mais esperto – para o barulho do motor invadir a cabine sem qualquer cerimônia. Nas primeiras vezes, o ruído é curioso e até instiga. Mas depois de um tempo de convivência, irrita e compromete o conforto.
Lanterna do JAC J2A ergonomia também é fraca. O volante, que só regula em altura, varia entre uma posição média e outra baixa. Motoristas de mais de 1,80 metro ficam sempre com a perna batendo na base do volante.

Para piorar, o banco não tem ajuste de altura, os comandos dos vidros elétricos ficam longe, no console central, e não há botão de trava central – é preciso puxar anacrônicos pinos para destravar as portas. Da mesma forma, o acabamento não é lá grande coisa.

A favor do JAC fica o surpreendente conforto a bordo, tanto pelo espaço quanto pela suspensão. O conjunto consegue absorver com bastante competência a buraqueira das cidades brasileiras e o espaço interno é acima do esperado para um subcompacto.

Ficha técnica - JAC Motors J2

Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.332 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração.
Potência máxima: 108 cv a 6 mil rpm.
Torque máximo: 14,1 kgfm a 4.500 rpm.
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,8 segundos.
Velocidade máxima: 187 km/h.
Diâmetro e curso: 75,0 mm X 75,4 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Motor do JAC J2
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira com braços duplos e molas helicoidais. Não oferece controle de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na dianteira e tambor na traseira. Oferece ABS com EBD de série.
Pneus: 175/60 R14.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,54 metros de comprimento, 1,64 metro de largura, 1,48 metro de altura e 2,39 metros de entre-eixos. Airbag duplo dianteiro de série.
Peso: 915 kg.
Capacidade do porta-malas: 121 litros.
Tanque de combustível: 35 litros.
Produção: Hefei, China.
Itens de série: Trio elétrico, desembaçador traseiro, faróis de neblina, faróis com regulagem de altura, apoios de cabeça dianteiros com ajuste de altura, airbag duplo, ABS com EBD, travamento automático das portas, cintos dianteiros com pré-tensionador, sensor de estacionamento traseiro, porta copos, tomada 12V, volante com regulagem de altura, direção elétrica, ar-condicionado e rádio/CD/MP3/USB com seis alto-falantes.
Preço: R$ 31.990.
Fonte: http://salaodocarro.com.br/testes/jac-j2.html

O que achou dessa Reportagem Comente ?

Comentários