Dossiê do café

Sabia que o risco de doenças cardíacas é menor entre bebedores de café saudáveis? Conheça os pontos positivos e negativos desta famosa bebida na saúde.

The New York Times*


Um aviso: não tenho ações do Starbucks ou, até onde sei, de qualquer outra empresa que venda café e derivados. A última vez em que escrevi sobre esta popular bebida foi há quatro anos, e o maior e mais recente estudo até hoje defende as primeiras avaliações dos efeitos do café à saúde.


Embora a nova pesquisa, que envolveu mais de 400 mil pessoas num estudo observacional de 14 anos, ainda não possa provar a relação entre causa e efeito, as descobertas são consistentes com outros estudos recentes.
Os resultados foram amplamente divulgados, mas aqui está o principal: quando o tabagismo e muitos outros fatores conhecidos por afetar a saúde e longevidade foram levados em consideração, os bebedores de café no estudo acabaram de alguma forma vivendo por mais tempo que os abstêmios. Além disso, quanto maior a quantidade de café diária – até certo ponto, pelo menos –, maiores os benefícios à longevidade.
O benefício observado do café não foi enorme – uma taxa de mortalidade de 10% a 15% menor do que entre abstêmios. Mas as descobertas são certamente reconfortantes e, considerando quantas pessoas bebem café, o número de vidas afetadas pode ser bastante amplo.
Evidências atualizadas

Em décadas passadas, especialistas advertiam repetidamente que o hábito do café poderia prejudicar a saúde e encurtar a vida. E de fato, segundo o novo estudo, quando os dados eram ajustados penas por idade, o risco de morte era maior entre os bebedores de café.
Mas quando os pesquisadores consideravam outras características ligadas à saúde, como o cigarro, o consumo de álcool e de carne, atividades físicas e índice de massa corporal, os bebedores de café viviam por mais tempo.
“Os bebedores de café não devem se preocupar. Seu risco é bastante semelhante ao dos que não consomem a bebida”, afirmou Neal Freedman, epidemiologista do National Cancer Institute, que dirigiu o estudo.

Longevidade

Os bebedores de café que eram relativamente saudáveis no início do estudo mostraram menor probabilidade de morrer de doenças do coração, problemas respiratórios, AVC, diabetes, infecções, ferimentos e acidentes.

O estudo, publicado em maio deste ano no periódico The New England Journal of Medicine, examinou dados de 402.260 adultos do Estudo de Alimentação e Saúde dos Institutos Nacionais de Saúde-AARP. Eles estavam entre 50 e 71 anos e não tinham doenças cardíacas, câncer ou AVCs quando o estudo começou, em 1995. Em 2008, 52.515 participantes haviam morrido.

Freedman e seus coautores examinaram o motivo dessas mortes em relação a quanto de café eles declararam beber no início do estudo e descobriram que o risco de morte caía gradualmente à medida que o número de xícaras subia para quatro ou cinco. Em seis ou mais xícaras por dia, havia um leve aumento no risco de morte frente. Mas as chances de morrer permaneciam mais baixas do que entre as pessoas que não bebiam café.
Refletindo práticas de meados da década de 1990, os pesquisadores consideraram uma xícara de café como tendo de 237 a 296 mililitros. Os copos colossais servidos atualmente corresponderiam a mais de uma xícara, explicou Freedman. Beber muitos desses copos extragrandes pode causar inquietação, irritabilidade, insônia e ansiedade.
Ao contrário da crença anterior, em níveis usuais de consumo, o café não é mais diurético do que seu equivalente em água. Um consumo de até seis xícaras por dia pode ser incluído na ingestão de líquidos recomendada.

Efeitos sobre a saúde

O café é uma substância complexa, com mais de mil compostos que podem afetar a saúde. A cafeína, um estimulante, é o mais estudado e pesquisado. As quantidades no café podem variar amplamente, de cerca de 70 miligramas numa dose de expresso a mais de 100 miligramas em 237 mililitros de café coado.
Mas pode existir uma grande variedade nos níveis de cafeína, mesmo em bebidas similares. Conforme Jane V. Higdon e Balz Frei, da Universidade Estadual de Oregon, reportaram em Critical Reviews in Food Science and Nutrition, quando o mesmo tipo de café foi comprado na mesma loja em seis dias diferentes, a proporção de cafeína variou de 130 a 282 miligramas numa porção de 237 mililitros.
Antioxidantes

Mas a cafeína não é o único composto do café que é importante à saúde. No novo estudo, foi encontrada pouca ou nenhuma diferença nas taxas de mortalidade entre os que bebiam café cafeinado ou descafeinado. Outras substâncias – como antioxidantes e polifenóis – provavelmente também desempenhavam um papel ligado à saúde, segundo os pesquisadores.
Suas descobertas devem tranquilizar aqueles preocupados com possíveis danos por substâncias usadas para remover a cafeína da bebida. O medo dessa química levou muitos fabricantes a adotarem o método suíço de remoção de cafeína, usando água.
Expresso ou coado?
A forma como o café é preparado pode fazer diferença na saúde. Dois conhecidos elementos químicos dos grãos do café, o cafestol e o caveol, elevam os níveis de colesterol e LDL no sangue. Essas substâncias são removidas quando o café é preparado via filtro, mas permanecem no expresso, no estilo francês e no café fervido – os sachês individuais de café, usados em algumas cafeteiras, contêm filtros.
Efeito protetor
Embora o café possa causar um aumento temporário na pressão sanguínea, o novo estudo, como os anteriores, descobriu que o risco de doenças cardíacas é menor entre bebedores de café saudáveis. Outros benefícios sugeridos por estudos recentes incluem risco reduzido de diabetes tipo 2, doenças do fígado e Parkinson. Algumas pesquisas descobriram um risco reduzido de depressão, demência e Alzheimer entre bebedores de café.

Exercícios

Pessoas envolvidas em atividades físicas pesadas também podem se beneficiar, mas apenas se o café contiver cafeína – que ajuda os músculos a usar os ácidos graxos para gerar energia e atrasa o efeito da adenosina, prolongando o tempo até que os músculos se cansem. As dores pós-exercícios e o tempo de recuperação também são reduzidos.
Gravidez
Ainda é controverso se o café oferece riscos a grávidas. Não foi demonstrada uma relação causal entre o consumo da bebida e abortos em ingestões de cafeína inferiores a 300 miligramas por dia, mas alguns estudos descobriram um maior risco de baixo peso ao nascer associado ao consumo de mais de 150 miligramas por dia.
Interações
Tenha em mente, também, que a cafeína é uma droga. Alguns medicamentos, incluindo Tagamet, Diflucan, Luvoz, Mexitil, estrógenos e antibióticos como Cipro e Levaquin, interferem com o metabolismo da cafeína e podem potencializar seus efeitos.
Em outros casos, a cafeína pode reforçar o efeito de remédios como aspirinas e paracetamol (um benefício para o alívio da dor). A cafeína pode ser tóxica se usada com doses receitadas da medicação antipsicótica clozapina.
* Por Jane E. Brody

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